sexta-feira, 25 de maio de 2012

Pai Jaú -Um dos pioneiros da Umbanda



Umbanda e Assistência
Euclides Barbosa, o "Pai Jaú". Foi zagueiro do Corinthians e do Vasco da Gama e participou da Copa do Mundo de 1938, na França. Morreu dia 26 de dezembro de 1988, aos 82 anos, de insuficiência respiratória, em São Paulo.
(Fonte: Veja, 4 de janeiro, 1989 - Edição n° 1061 - Pág; 65)*15/12/1906 - 26/12/1988)
"Pai Jaú - Um Grande Mártir da Umbanda"
"Um apelido como qualquer outro" era a resposta que Euclides Barbosa dava quando lhe perguntavam de onde ou do que havia surgido o apelido Jaú.
"Sou uma pessoa que tem três pesos e três medidas: sou da raça negra, umbandista e corintiano."
Jaú, em uma dividida de bola, acabou tendo um ferimento grave na cabeça. Sua presença era essencial para que o time conseguisse vencer o adversário.
Foi nesse instante que recebeu, pela primeira vez, uma mensagem espiritual, e a levou a sério.
Jaú estava deitado na maca, fora das linhas do campo, o médico dizendo ao técnico que ele não poderia voltar ao jogo, pois o sangue não parava de jorrar e, provavelmente, ele havia sofrido uma concusão cerebral; somente um milagre faria com que ele se levantasse. Quando olharam para o lado, Jaú estava de joelhos, olhando para o infinito, como se estivesse ouvindo instruções, e passou a mão no gramado, arrancou um chumaço de grama, colocou no ferimento, e, ainda seguindo as instruções, enfaixou a cabeça. Depois, solenemente encostou a testa na terra e levantou-se, como que impulsionado por uma mola, entrando vitorioso no campo, sob os aplausos da torcida e a perplexidade do médico e do técnico.
Mais tarde, este gesto de tocar o solo do gramado com a testa passou a ser marca registrada do grande jogador e tinha tanta influência entre os colegas que ninguém se atrevia a colocar os pés no gramado sem que houvesse o toque da sorte, como passou a ser conhecido.
Quando Jaú pendurou as chuteiras e passou a dedicar-se inteiramente à sua missão religiosa, teve realmente de ter o mesmo espírito de luta que sempre lhe acompanhou nas disputas espor­tivas.
Foi atendido; quando os carrascos acenderam os palitos, ele começou a ver, nas chamas, uma espécie de luz, formando uma figura de índio. De seus olhos escorreram lágrimas, não de dor e sim de pena daqueles sujeitos que acharam que estavam lhe fazendo um grande mal. Estavam lhe proporcionando passar por um grande milagre espiritual.
Os policiais foram afastados a bem do serviço e nunca mais Pai Jaú foi perseguido pela polícia.
Até os 82 anos, idade em que faleceu, Pai Jaú atendia pessoas todas as quartas-feiras. Todos admiravam seu caboclo, pois sempre vinha do mesmo jeito, independente da idade ou da saúde do velho guerreiro. Na incorporação, seu corpo estirado se elevava mais de um metro do chão e, ao tocar no solo, o caboclo batia a cabeça no chão, no gesto característico do grande Decano.
Como já aconteceu com muitos sacerdotes, por não deixar por escrito sua vontade, após sua morte, no que diz respeito a cerimônia e legados, Pai Jaú sofreu a discriminação e o desrespeito. Seus filhos-de-santo não puderam fazer nada, pois a família, com exceção de seu filho Jair, que nunca havia participado de sua vida, proibiu qualquer cerimonial umbandista e, no dia seguinte ao enterro, sua filha evangélica desmontou o congá, jogou tudo na rua e colocou fogo, sob os olhos atônitos dos vizinhos, que não puderam ou não quiseram interferir.
Terminava assim a trajetória de um homem que honrou seu tempo, seus amigos e seus filhos espirituais, mas que recebeu muito pouco ou quase nada em troca, a não ser sua própria luz na eternidade.
Ao Velho Pai Jaú,
por seu Dia de Glória
"Oxalá o abençoe e guarde hoje e sempre. Sua benção Pai Jaú."

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